eu sou um mosaico de tudo aquilo que já amei.
entrada #3: sobre algumas coisinhas que moldam quem eu sou.
Oi irmãs!
A entrada dessa semana é super especial para mim porque é sobre um “conceito” que eu amo há muito tempo: a ideia de que todos nós somos um mosaico de todas as coisas que já amamos.
Um mosaico é basicamente uma forma de arte feita com pequenos pedacinhos de alguma coisa. De certa forma, todos nós somos um mosaico, você não concorda? Somos feitos por pequenos detalhes de tudo aquilo que já amamos e que adquirimos ao longo do tempo.
Bom, nessa entrada eu vou falar sobre algumas coisas que eu amo e que consequentemente têm um grande impacto na garota que sou hoje em dia.
“I am the girl I am because of you”
eu sou a garota que sou por sua causa.
— stranger; olivia rodrigo
Diversas pessoas passam pelas nossas vidas e deixam um pedacinho delas com a gente, às vezes é algo tão comum que não percebemos até realmente prestarmos atenção. Por exemplo: talvez você escute religiosamente uma música que um amigo te indicou há muito tempo e você nem lembrava mais que foi através dele que conheceu a música. Quem sabe sua figurinha favorita do WhatsApp te foi mandada por uma pessoa que você nem conversa mais, mas ela deixou esse pedacinho minúsculo dela com você, sem que você perceba.
Para ilustrar um pouco melhor essa ideia: lá em casa nós usamos um pote de vidro para guardar o café. Esse pote chegou até nossa casa porque minha ex-chefe me presenteou ele cheio de geleia que a mãe dela havia preparado. Depois que nós comemos a geleia resolvemos manter o pote e usamos todos os dias desde então. Faz quase dois anos que eu não trabalho mais naquele local, e vi minha ex-chefe umas duas vezes desde que saí, mas ela foi uma pessoa muito importante pra mim, porque me ensinou muitas coisas e me inspirou de diversas formas. Quando eu penso nesse vidro de café que um dia foi cheio de geleia, eu lembro de como me senti amada, não apenas por ela que teve a doce atitude de compartilhar aquilo comigo, mas de certa forma pela sua mãe também, que com certeza preparou a geleia com muito amor para a filha e eu tive a sorte de receber um respingo desse amor, por meio de um simples vidro de geleia.
Agora que mencionei café, lembrei de outra situação que eu adoro. Quando eu era bem novinha, tipo uns 6 ou 7 anos, eu passei uns dias das férias de verão na casa do meu primo. Ele é apenas alguns anos mais velhos que eu, então eu achava ele o máximo e queria imitar tudo que ele fazia. Eu lembro que um dia ele foi tomar café e me ensinou a preparar igual a ele. Não era nada muito complexo: ele colocava o açúcar e café numa xícara, adicionava uma colherzinha minúscula de água e mexia bastante, até formar uma mistura cremosa, para depois adicionar o leite. Como eu disse, era só um café batido, mas foi a primeira vez que alguém me ensinou a preparar daquela forma, pelo menos que eu me lembre. Resultado: eu não faço ideia se meu primo ainda toma café assim, mas o que eu sei é que, 13 anos depois, eu ainda preparo o meu café exatamente da forma que ele me ensinou.
Nem todos os pedacinhos do nosso mosaico são físicos, como um vidro de geleia. Alguns são intangíveis, mas carregam a mesma importância. Por exemplo: eu posso ser uma pessoa bem emburrada quando quero. Se alguém fala comigo de uma maneira que eu não gosto, se eu não consigo fazer algo do jeito que quero, eu tenho uma tendência a fechar a cara e ficar quietinha. Quando isso acontece, meus pais costumam dizer: “Você é puro sua vó”. Até minha vó concordaria que ela é um pouco emburrada, a gente sempre sabe quando ela está chateada com alguma coisa, e eu não sou diferente. Pode ser algo tão simples e imperceptível mas que privilégio eu tenho de carregar semelhanças com alguém que eu amo tanto.
Alguns pedacinhos do nosso mosaico são mais bonitos que outros, mas absolutamente todos são essenciais para formar a obra final. Algumas pessoas que cruzam nosso caminho vão embora tão rápido quanto chegaram o que, na maioria das vezes é triste, mas também é necessário. Eu tive uma experiência um tempo atrás (da qual não irei relatar por motivos de privacidade :D) que não acabou muito bem, mas volta e meia quando eu vejo algo que associei à pessoa, eu lembro de que por um tempo, por mais breve que tenha sido, foi bom e me fez feliz.
Está tudo bem admitir que nem tudo que se tornou passado sempre foi ruim. Para mim, pelo menos, preservar na memória os bons momentos me ajuda a seguir em frente com um pouco mais de paz interior e tranquilidade.

A minha parte favorita desse pensamento de que somos um mosaico de tudo aquilo que amamos, é que torna possível sentir um amor que, muitas vezes, parece não estar mais lá.
Meu nome do meio é Vitória. É o mesmo nome do meio da minha avó e da minha bisavó. Eu carrego elas na essência de quem eu sou, e é uma das coisas que eu mais amo na minha vida.
Minha bisavó faleceu quando eu era criança. Eu tive o privilégio de conhecer ela e ainda tenho algumas escassas memórias de como ela era. Quando ela faleceu, minha mãe herdou uma chaleira e uma leiteira que pertenciam à ela. No fim das contas, nós deixamos apenas para decoração, mas elas estão sempre lá. Eu gosto de olhar pra elas e pensar que um dia fizeram parte da rotina dos meus bisavós, que talvez eles usavam para esquentar água para o chimarrão todos os dias. É uma lembrança de que eles existiram e foram muito amados, o que me faz sentir amada por eles de alguma forma também.
Meu bisavô faleceu logo depois da minha bisa. Eu lembro menos ainda dele, infelizmente. A única memória vívida que eu tenho é de visitar a casa deles e ser recebida com um monte de docinhos. Um desses docinhos é um dos meus favoritos até hoje, e meus amigos brincam comigo porque é um chocolatinho bem barato e simples, mas eu adoro. A nostalgia faz coisas engraçadas com a gente. Se você me soltasse na região que meus bisavós moravam, eu jamais saberia chegar até a antiga casa deles, não lembro nem das cores ou da estrutura. Mas, às vezes, quando eu como esse chocolate, eu sou transportada para lá. Talvez não para a casa, mas com toda certeza para o lar que ela era.

Minha tia-avó faleceu há 6 anos. Ela era uma das melhores pessoas que já viveu e a sua perda ainda paira sobre toda a família. Quando eu era criança eu lembro que ela me deu 10 reais, que eu guardei para comprar um kit de livrinhos de pintura que tinha visto no mercado (eram da moranguinho). Meu pai me levou até o mercado mas quando eu cheguei lá o kit já tinha sido vendido e não tinha nenhum igual. Eu fiquei MUITO chateada, e quando eu fico com muita vontade de alguma coisa, meus pais dizem que eu estou “com bicha”. Às vezes eu fico fisicamente mal por conta disso, com febre ou ansiedade. Sempre que isso acontece eu lembro dessa situação da minha infância, lembro do kit da moranguinho e lembro da minha tia, sempre tão gentil e boa.

Essa ideia me conforta muito porque eu sempre fico chateada quando “perco” alguém. Pensar que nada nunca é totalmente perdido é um acalento para a alma, pelo menos eu acho. Ano passado eu recolhi todos os itens que eu guardei na minha caixinha de memórias e resolvi fazer um quadro para pendurar na minha parede. É como um lembrete constante de que eu já vivi todas essas coisas, conheci todas essas pessoas e tenho um pedaço delas comigo.
Eu escreveria sobre esses assunto por horas, mas vou encerrar por aqui. Por último, queria compartilhar que minha assinatura nessa newsletter também foi pensada em um momento assim. Ano passado eu pedi ao meu professor da faculdade se poderia entregar um texto no dia seguinte porque estava de atestado na data e assinei o e-mail com “carinhosamente”. Essa foi a resposta super querida dele:

Espero, de coração, que esse texto tenha sido gentil com você de alguma forma e te motivado a pensar em quais são os pedacinhos que formam o seu mosaico. Caso você se sinta à vontade, eu adoraria que você comentasse um deles aqui, me faria verdadeiramente feliz ♥
epílogo
♦ música da semana: eu estou tentando ampliar meu repertório musical e passei a semana ouvindo o álbum Stick Season do Noah Kahan. Eu poderia muito bem recomendar o álbum inteiro porque é fantástico, mas minhas músicas favoritas têm sido Come Over, Growing Sideways e Halloween!
♦ filme da semana: nessa última semana eu assisti 0 filmes (inserir aqui a imagem do fake cinephile 🥀🕯️) mas pensei que poderia sugerir um filme que se relacione à temática desse texto. Depois de revirar meu letterboxd, decidi escolher Barbie e o Castelo de Diamantes. Foi um dos primeiros filmes da Barbie que eu assisti, graças à minha irmã e minha prima, que brincavam de ser a Liana e a Alexa. Até hoje é um dos meus filmes favoritos da Barbie (atrás apenas de Escola de Princesas) e eu tive a chance de apresentar à minha irmã mais nova um tempo atrás, o que torna tudo ainda mais especial.
ps: eu com certeza farei uma lista com alguns dos filmes que moldaram minha personalidade, vem aí!
♦ artigo da semana: that billionaire is not your best friend. Esse é um texto publicado pela Sarah na sua newsletter People’s Princess e eu adorei muito. Ela fala sobre como deixou de ser fã da Taylor Swift e o porquê disso ter acontecido. Eu me identifiquei muito com o texto dela porque também não me considero uma swiftie há muito tempo, apesar de apreciar e ser grata pela arte dela, que significa muito para mim.
você pode me encontrar aqui:
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Muito obrigada por ter lido até aqui! Te vejo na próxima semana ♥
Carinhosamente e com um beijinho na testa,
Samy.
Eu estava pensando sobre esse assunto alguns dias atrás e acho muito bonito o fato de que as pessoas que conhecemos ao longo da vida deixam um pedacinho delas para gente carregar, mesmo que seja com algo simples. Há algum tempo atrás, me relacionei com uma pessoa que amava Star Wars e me convidou para assistir a um filme da saga com ela; eu nem estava tão a fim, mas no final acabei topando. Hoje eu já não tenho contato com essa pessoa, mas essa saga simplesmente virou a minha favorita da vida e só nesse pequeno exemplo, dá para perceber que nem sempre precisamos focar apenas no fim das relações ou na tristeza que foi deixada junto com as inúmeras memórias, e sim nas pequenas coisas que nós aprendemos e levamos pra vida durante aquele tempo e como agora essas coisas fazem parte de quem nós somos hoje. Gostei muito do seu texto por lembrar desse lado: as coisas nem sempre precisam ser "cinza" e tristes; precisamos tentar enxergar a beleza nas coisas da vida.
Achei seu texto muito reconfortante. Há tantos textos falando sobre coisas negativas e problemas na sociedade que já estava esquecendo de como a vida é bela, seu texto me lembrou disso!